domingo, 9 de maio de 2010

Maratona de Idanha à Nova - Bora Lá ao verdadeiro ESPÌRITO do PURO BTT

***Chouriços e chouriças, enquanto vos escrevo este relato, ainda me sinto embriagado pela jornada magnífica de BTT, no seu estado mais Puro, que pude testemunhar em Idanha à Nova, apelidada de Catedral do BTT, na companhia do Pimenta “Saca Saca” entre outros amigos e amigas– o Trilhos e o Sérgio desta vez baldaram-se ao evento. Participamos pela 1ª vez na mítica Maratona de 100 Kms. O cansaço é algum, as memórias do convívio, da camaradagem, das gentes, dos autênticos postais naturais e as fotos tiradas são muitas. Nem a chuva que marcou a sua presença no fim-de-semana nos conseguiu desanimar.


*** Em abono da verdade, uma maratona de 100 Kms é coisa séria, por muita boa vontade e espírito guerreiro(a) que se possua. Os que não vão para competir e registar ansiosamente a sua posição na classificação, mas sim apreciar todos os pormenores destas provas, têm de contar com muitas horas em cima da bike. E para esta distância, têm de se contar com muitos factores para as coisas não correrem mal: meteorologia, treino, hidratação, alimentação, quedas, avarias, força mental, etc……

*** A prova disso: a minha participação na Maratona de Portalegre em 2009,sem ritmo adquirido nos meses anteriores para os 100 kms, aliado ao calor que se fez sentir, eu e o Pedro “Trilhos” penamos muito para terminar a prova, a parte final acaba sempre por ser massacrante. Não se desfruta em pleno de tudo o que anda à volta duma Maratona desta natureza – os trilhos, o convívio, as paisagens e rotas locais, a camaradagem, etc…. Leva-se é um grande EMPENO! Mas é verdade – fazendo justiça ao meu amigo Mário Almeida do SprintVeloceTeam que esteve presente com a família, entre muitos outros da Ecobike e não só - que fazer uma deslocação de 300 e muitos Kms até às colónias de férias da PSP de Monfortinho, passar o fim de semana por aquelas bandas, com as despesas que isso acarreta, para só ir participar numa Meia maratona, não é propriamente a opção mais indicada. Até porque, caso dúvidas houvesse, o percurso da Meia Maratona de Idanha não passava por Zarza la Mayor, em Espanha, suprimindo a quase totalidade dos singletrack´s e afins da Maratona, ou seja, a cereja em cima do bolo.

***Esta é sem dúvida uma das melhores MARATONAS nacionais em que participei: a monumental descida de 1300 Betetistas, vindos de Idanha à Nova, pela calçada romana, sendo feita no sentido oposto na parte final, em cima da burra para os que conseguirem, não foi o nosso caso…; Os imensos estradões percorridos pelas extensas planícies; Os incríveis singletrack´s de vários Kms junto ao Rio Erges; A Descida técnica da calçada com lage húmida depois de Salvaterra do Extremo, qualquer coisa de divinal, mesmo espalhando-se, não é Pimenta? Os cantares populares das gentes nas localidades atravessadas; A palete de cores encontradas na vegetação existente e que sempre nos acompanhava, apimentadas por castelos e torres lá no alto de qualquer penedo – algo me diz que em Setembro alguns malucos do Bike17Eco por lá passarão outra vez!!!! Enfim, nada que não possa ser conferido pelas fotos e vários links que serão anexados na parte final deste Relato mas que, amigos e amigas, só podem ser devidamente valorados por aqueles que lá rolaram com a sua montada, pois os cheiros e sabores são únicos.

***Fita de Tempo.

Sexta-feira, 7Maio. Saída depois do almoço de Ermesinde com o Pimenta, direcção Termas de Monfortinho e Hotel de Férias da PSP. Chegada pelas 17H30, viagem feita sem stress como deve ser, já se encontravam no local alguns amigos do Ecobike, Jorge Almeida, Mário Almeida
, Gouveia e respectivas famílias, chegada durante o resto da tarde de muitos outros. Tempo agradável, com sol, visita com a malta à Penha Garcia, para apreciar as fantásticas vistas lá do alto. Jantar em Penha Garcia: bifes de javali e de veado, eu comi javali pela 1ª vez mas, pela opinião de alguns experts, não estava grande espiga, não desgostei mas realmente era um pouco seco... Recolher obrigatório pelas 23H00: aqui surgem logo algumas dúvidas cartesianas, a principal, onde vamos tomar o pequeno-almoço amanhã, pelas 07H00? Ali era para esquecer pois há pouco comércio nesta altura e a essa hora, vão mesmo estar à nossa espera para abrir as portas, fazem eles bem! Em Idanha então? Não me parece, o Vítor Silva e Tó Jó da Ecobike, que passaram pelo secretariado da prova em Idanha, antes de vir para Monfortinho, levantando os dorsais da malta toda, logo nos avisaram que ia ser complicado, dada a afluência de Betetistas naquela urbe. Vamos negociar com a gerente do hotel onde pernoitou o Santiago e esposa, boa ideia dizem alguns, até cinco euros é de pensar no assunto! Dez euros dizem-nos, é já a seguir…. O que vale foi que tanto eu como o Pimenta trouxemos o nosso farnel de casa com sandes, fruta e iogurtes, para a viagem e já a pensar nestas eventualidades, velhos hábitos do tempo das meias companhias. Já quase a adormecer e a preparar-me mentalmente para o grande dia, outra dúvida existencial por parte do Pimenta: Ressonas de noite? diz ele com ar preocupado. Deixo-o descansado: que eu saiba não!!!! Não ressonei mas o ar condicionado, mesmo desligado, e os pássaros nos telhados fizeram muito mais estragos ao descanso dos guerreiros nessa noite.

Sábado, 8Maio. Dia de prova. Tempo muito cinzento e a prometer chuva, o que veio a acontecer. 07H00, Saída dos bravos para Idanha, a cerca de 40 kms, em longas estradas nacionais, desertas . Pequeno-almoço já era, pão esgotado, cada um que se safe e vai ter que aguardar pelo 1º abastecimento, dos 5 existentes, ao Km23. Direcção linha de partida, já alguns 70 Betetistas á nossa frente, sobressai o Vítor Gamito na linha da frente, dorsal 673, grande senhor do Ciclismo Nacional e vencedor final da prova, que se dedica ao BTT neste momento. Outras grandes figuras nacionais do Norte também marcam presença, neste caso o Oledo. A Partida é dada pelas 09H e pouco, não a real que será depois da descida da Calçada Romana, na ponte, bem, meus amigos, é uma visão impressionante estar lado a lado com milhares de Betetistas a descer a calçada tão acentuada e sinuosa, com alguns malucos a arriscar em demasia e sem necessidade, um deles embrulhou-se com o Pimenta e espalhou-se, agora percebo porque é que a organização quer manter a partida e chegada nestes moldes, acaba por ser o ex- libris e imagem de marca da prova. Como sempre é o apanágio do Bike17Eco, a minha corrida será feita com o Pimenta, ninguém fica sozinho, vou deixar o Gamito ir-se embora, a malta da Ecobike ficou logo mais à frente, cada um vai fazer a prova ao seu ritmo. Esta Maratona não era tão dura como a de Portalegre, até Zarza la Mayor, sensivelmente a meio da prova, é sempre a rolar, um sobe e desce constante certo mas rápido. Posso dizer que até ao Km 88, no último abastecimento, e a faltar 18Kms para o final, sim foram 106, eu e o Pimenta estávamos como o aço, rolamos sempre na boa, na conversa e a desfrutar dos trilhos, parando, tirando fotos, ele teve uma avaria antes de chegar ao abastecimento de Segura, que antecedia Salvaterra do Extremo, em que a corrente ficou presa de tal forma na cassete que tivemos de a retirar – para não partir o drop out ou o desviador, forçar ao máximo para extraí-la que conseguimos e pusemos um elo, estivemos perto de 30 minutos parados. Nos últimos 16 Kms, começou a chover e nunca mais parou, descemos á Barragem Marechal Carmona e depois era quase sempre a subir, até levar com a subida da calçada até à meta em Idanha, nesta fase, já vínhamos os dois mais cansados e fomos fazendo este trajecto mais devagar, a calçada apeada claro. Banhos nas escolas – água fria pois depois de oito horas e tal a pedalar a água quente já foi toda a vida, e depois o tacho (demoramos algum tempo a encontrar o sítio certo), arroz de feijão e porco no espeto, mal eu tinha começado a comer e já o Pimenta tinha dado uma coça no seu prato: Estava cheio de fome, disse ele! Sem dúvida eu também estava, é que barras, bananas, gomas com cafeína, etc… não enchem o bandulho de forma decente…. Regresso dos duros e Fatigados para o Quartel-general onde é feita a análise pelo grupo do percurso. Ouve-se o regozijo de um atleta por ter ganho uma francesinha a outro!! Só elogio claro á prova. Alguma malta foi jantar. Nós ainda estávamos cheios, ficamos em retiro espiritual e a descansar os ossos no quarto. Não vai haver pássaros e ar condicionado que nos vai quebrar o sono hoje!

Domingo, 9Maio. Saída do Hotel de manhã. Visita a Monsanto, a aldeia “mais portuguesa de Portugal”, onde decorreu no fim-de-semana uma feira medieval, impressionante riqueza cultural e histórica daquela região. Do alto do Castelo, uma visão singular da beleza e da paz circundante. O Transporte até a aldeia é assegurado por uma carrinha de 1930, tipo as TP25 da PSP, num constante vaivém, mais uma aventura, será que vai conseguir subir???? Prova superada. Regresso a casa com direito a almoço em Viseu com mais malta que nos acompanhou na viagem, chegada a Ermesinde pelas 17H25, alguém tem de ir combater o crime…..

*** Ah, é verdade, a nossa classificação final: lugares 444 e 445 em 533 possíveis. Oito horas e vinte minutos por aí, em cima da burra. O 1º, Vítor Gamito com 4H25.
Mas digam-me lá uma coisa: o que é que isso interessa depois de tudo o que foi relatado?

Sousa "Trepador"

3 comentários:

Ni Amorim disse...

Depois deste relato e de ver as fotos, fiquei com vontade de ir na próxima!
Deixem-me confidenciar que fiquei comovido ao veras fotos em que o Trepador ajuda o Saca-Saca a arranjar a avaria!
Até me vieram as lágrimas aos olhos!

Anónimo disse...

Sousa, parabens pela excelente cronica...realmente foi o relato mais pormenorizado e comovente que já vi, no entanto deixa-me dizer que para "trepador" ...foste apanhado a subir a calçada com a burra na mão, nada que eu tb não tivesse feito, mas apenas em 2 "cotovelos"... a minha desgraça foi a queda e dois furos senão ficava á frente do Sergio Santos e do Vitor Santos, deixava o Jorge Almeida para trás e o Mario,o Leite e o Vitor tinham de me acompanhar...obrigado ao teu amigo da foto com a T-shirt laranja, foi quem me ajudou na queda...muito obrigado para ele se estiver a ler esta crónica. Da proxima levo maquina de filmar e juro...para o ano estou lá...adorei.
Santiago

Filipe Moreira "Oledo" disse...

Amigo Sousa acabei de ler o vosso rescaldo e confesso que estou “emocionado”, pois eu sou natural daquela terra onde nasci, cresci e vivi até vir para a PSP e fico muito orgulhoso por ter um evento destes por aquelas bandas e mais orgulhoso ainda por saber que toda a malta da nossa guerra e amigos que fizeram 300 km a fim de participar nesta maratona vieram de lá satisfeitos e com a vontade de voltar.
Santiago não precisa agradecer… afinal há ou não há companheirismo no BTT? De facto foi uma queda bem aparatosa felizmente sem graves danos. Penso eu de que.
Pior queda teve o outro colega que não sei o nome, mas tem uma lapierre X-control cinzenta, perto barragem, espero que não tenha sido nada de grave mas pelo que soube julgo que acabou a maratona a pedalar.
Já que gostaram tanto de pedalar na “Catedral do BTT” em Outubro realiza-se maratona, também com excelente organização ACIN (www.acin.com.pt). Será o VI Trilhos da Raia, com subida a Aldeia mais Portuguesa - Monsanto, é uma maratona mais curta que a internacional cerca de 75 km.
Encontramo-nos por ai e nos Trilhos
Abraços
Filipe Moreira “Oledo”

www.bttoledo.forumotion.com